As reformas políticas
O Brasil vive uma contradição que merece ser debatida. Observe: neste momento, o governo federal conta com alta aprovação popular, mas os políticos, em geral, são muito mal avaliados.
No que diz respeito ao governo federal, há fatores fortes que pesam a favor. Entre eles, baixo desemprego, redução dos juros, mais crédito, aumento no poder de compra dos salários e, especialmente, políticas sociais como Bolsa-Família, Luz Para Todos, Prouni etc. Junte-se a isso medidas de impacto, como a recente redução das contas de luz para residências e indústrias e isenção do Imposto de Renda sobre a Participação nos Lucros e/ou Resultados até R$ 6 mil.
Quanto aos políticos, muitos fatores pesam contra. Os que mais pesam são a sequência de denúncias sobre práticas ilegais, o envolvimento em negociatas, a apropriação do que é público para fins particulares ou partidários, e assim por diante. Pesam também as constantes intervenções e denúncias do Judiciário ou do Ministério Público, que, ressalvados eventuais exageros da própria mídia, indicam práticas políticas que a população desaprova e rejeita.
Não há dúvida, ante esse quadro, que o Brasil ficaria melhor para todos se ocorresse um avanço nos costumes políticos, houvesse mais renovação na Câmara e no Senado e, melhor ainda, se conseguíssemos meios de reduzir a influência do poder econômico no processo eleitoral, nas emendas parlamentares e na própria condução dos mandatos.
Minha geração combateu a ditadura e lutou pelo restabelecimento do Estado de Direito, rompido com o golpe de 1964. A reconquista da democracia e dos direitos individuais, o fim da censura à imprensa, a recuperação da autonomia do Poder Judiciário, entre outros avanços, criaram um ambiente mais propício para os brasileiros. As conquistas econômicas dos últimos anos também elevaram a autoestima do nosso povo. Mas é necessário avançar mais.
O brasileiro, ao contrário do que se diz por aí, gosta de política. E um dos indicadores desse fato é o debate constante, e acirrado, nos blogs e nas redes sociais. Mas é um debate que ainda mobiliza pouco, porque fica restrito a uma elite de maior poder aquisitivo, melhor grau educacional e que tem, pela sua própria natureza, uma forte predisposição ao debate.
O que fazer? Precisamos massificar o debate político. E, nesse particular, penso que o movimento sindical e demais segmentos organizados têm que se posicionar. Se fizermos assim, e de modo continuado, vamos ressaltar a importância da política. E esse será o primeiro passo para, em seguida, aprofundar o entendimento de que essa política aí, com tantos vícios, não é a que interessa à Nação, especialmente ao setor produtivo e aos trabalhadores.
Há muitos meios de se fazer a reforma política. O questionamento sobre a forma com se que se faz política, hoje, e é um deles.
José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
E-mail: pereira@metalurgico.org.br
Blog: www.pereirametalurgico.blogspot.com
Este artigo foi publicado no jornal Guarulhos Hoje, dia 14 de fevereiro.