Todo trabalhador que procura por um diretor do Sindicato, em nossa sede, logo que chega ao segundo andar dá de cara com um senhor de cabelos brancos, simpático e sempre atencioso. Ele é Bertholino da Silva Santos, ou simplesmente Bertho, como gosta de ser chamado, auxiliar da diretoria.
Bertho tem 39 anos de trabalho em Sindicatos, sendo quase 30 em nossa entidade, onde ingressou em 18 de abril de 1977. Aos 65 anos, este paulistano legítimo (nasceu no bairro do Tatuapé, em 26 de julho de 1945) é casado com Ruth Marco, tem dois filhos (um casal) e cinco netos.
Bom jogador de futebol na juventude era lateral direito, Bertho conta que quase foi jogar no Exterior. Mas acabou ficando por aqui porque era o mais velho (numa família de treze filhos). De todo modo, sua ligação com a bola continua, já que é um ardoroso palmeirense. “Torço pelo Palmeiras e pelo Brasil”, diz.
Além de trabalhador dedicado e respeitado por todos, Bertho é um verdadeiro exemplo de vida.
Ele conta: “Quase perdi tudo por causa da bebida”, diz. A crise foi superada e, hoje, ele dedica boa parte de seu tempo para ajudar a recuperar alcoólatras: é diretor administrativo da Regional Guarulhos da Associação Anti-Alcoólica do Estado de São Paulo.
História - A ligação de Bertholino com a categoria metalúrgica é antiga e sólida. Afinal, ele também foi metalúrgico. “Meu primeiro emprego foi numa metalúrgica na Penha”, ele conta. Anos depois, em razão de contatos com amigos em seu bairro, ele começou a trabalhar no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Entrou em 19 de maio de 1967, na seção de recibos. Era época do famoso Joaquinzão, histórico presidente daquela entidade.
Dez anos depois, Bertho pediu demissão e no dia 18 de abril de 1977 começou a trabalhar em outro Sindicato, também de Metalúrgicos, mas desta vez em Guarulhos. O presidente era Arnaldo Rodrigues da Paixão. Começou como encarregado da Secretaria, depois foi promovido a auxiliar da diretoria.
Era uma época difícil, de ditadura, muita perseguição ao movimento sindical e morte de opositores do regime.
Foi em 1977, por exemplo, que o general Geisel fechou o Congresso Nacional, tentando calar a voz da oposição, aglutinada, então, no MDB (Movimento Democrático Brasileiro), partido que em 1978 obteve uma avassaladora vitória sobre a Arena, que representava a ditadura.
O enfraquecimento da ditadura e a reorganização das forças de oposição ganhavam amplos setores da população. E a classe trabalhadora começava a assumir a linha de frente das lutas. Berho viveu essa época e testemunha: “Os anos 80 foram de grandes mobilizações e lutas sindicais. Por exemplo, todas as assembleias convocadas pelo Sindicato lotavam a rua dos Metalúrgicos, onde ficava a sede antiga”. Segundo Bertho, cada assembleia reunia milhares de metalúrgicos. Ele destaca a grande participação: “Naquela época, o Sindicato chamava e a massa comparecia. O trabalhador daquele tempo era muito mais participativo e os nossos diretores eram constantemente cobrados pela base”.
Comunicação - Hoje, o Sindicato dispõe de uma forte estrutura de comunicação, ajudado inclusive pelos meios eletrônicos. Bem diferente daquele tempo. Bertho relembra: “Naquela época, não tínhamos os meios de hoje. Pra se fazer os boletins, era uma mão de obra danada. As letras das manchetes eram feitas a mão.
Depois, eu datilografava todo o material e imprimia no mimeógrafo. Isso melhorou um pouco quando surgiram aquelas cartelas de letras que você comprava nas lojas, passava a caneta e colava no papel, fazendo as manchetes. Depois, era só aplicar o texto e passar no mimeógrafo”.
Álcool - Foi em 30 de abril de 1997 que a vida de Bertholino mudou pra pior. Ele conta: “Eu era um alcoólatra e no dia 30 de abril de 1997 fui demitido do Sindicato justamente por causa dessa minha doença. Eu sempre bebia, muitas vezes em serviço, e chegava completamente alcoolizado em casa. Por isso digo que minha esposa é uma santa. Eu nunca a agredi, nem aos meus filhos, porque chegava em casa e ia dormir direto. Meus problemas não diminuíram, e não conseguia arranjar emprego. É uma situação muito triste, que vemos em quase todas as esquinas, dia após dia”.
Mas a trajetória de um homem arrasado, e sem perspectiva, mudou completamente dia 18 de agosto de 2000. Bertho afirma: “Foi quando conheci a Associação Anti-Alcoólica. Fiz meu voto de abstinência ao álcool e voltei a viver de novo. Em janeiro de 2001, já completamente curado, tive um novo contato com nosso Sindicato, mais precisamente com o Paixão, na época advogado da entidade. Ele me apresentou ao Pereira e aqui estou! Fui readmitido em 18 de abril de 2001, já como auxiliar da diretoria”
Hoje, na condição de diretor da Regional Guarulhos da Associação Anti-Alcoólica do Estado de São Paulo, onde atua desde 2002, Bertho se preocupa com a situação desesperadora de outros alcoólatras. Ele chama atenção para a necessidade de se combater o vício e alerta: “O alcoolismo é uma doença lenta, progressiva e de caráter fatal. E mata! Mas o vício pode ser curado, desde que a pessoa queira. Eu, desde aquele dia em 2000, nunca mais coloquei uma gota de álcool na boca. Devo minha recuperação à minha família. Minha mulher e meus filhos me ajudaram, e eu sou uma nova pessoa”.
Homem de fé cristã e crente no poder transformador do trabalho, Bertholino da Silva Santos dá um recado: “Tudo que você for fizer na vida, faça com vontade e dedicação. E goste do que você faz. Eu gosto do que faço no Sindicato, que é, sem dúvida, minha segunda casa. Esse amor ao trabalho e o reconhecimento na força que o trabalho tem em nossas vidas vale para qualquer ramo de atividade”.
Política - Bertho não é pessoa de militância e não é ligado a partidos. Mas elogia o presidente Lula: “Ele fez um bom trabalho, embora não tenha acertado na escolha de alguns de seus ministros”. E quanto à Presidente Dilma? “Olha, eu torço muito para que ela faça um governo bom para os brasileiros.”
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