Existem pessoas às quais o tempo não passa. Mantêm a mesma energia com o avanço dos anos, e até se tornam melhores com a experiência adquirida. É o caso de Almino Monteiro Álvares Affonso, um amazonense nascido em Humaitá, em 11 de abril de 1929. Aos 82 anos, continua carismático, com voz imponente, e com uma memória de dar inveja a muitos jovens. Isto, mesmo após longos anos vivendo no exílio.
Foi Almino Affonso quem, pessoalmente, entregou a Carta Sindical à nossa entidade em 30 de abril de 1963. “Tenho o maior respeito pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região, por sua história e por tudo que foi feito pelos trabalhadores nestes 48 anos de existência”, diz.
Vida - Almino Affonso vem de família tradicional na política brasileira. Seu avô, o ex-senador Almino Álvares Affonso, é chamado de o “Grande Tribuno da Abolição dos Escravos”. Casado com Lygia de Brito Alvares Affonso, é pai de Rui, Gláucia, Fábio e do músico Sérgio Britto, integrante da banda Titãs.
Bacharel em Direito pela Faculdade do Largo São Francisco, foi ministro do Trabalho e Previdência Social no governo de João Goulart, de 24 de janeiro a 18 de junho de 1963. Cassado pelo golpe de Estado de 1964, viveu no exílio por doze anos, na Iugoslávia, Uruguai, Chile, Peru e Argentina.
Retornou ao Brasil em 1976, quando sua vida política ganhou novo impulso: foi secretário dos negócios metropolitanos de São Paulo no governo de André Franco Montoro; vice-governador do Estado de São Paulo na gestão de Orestes Quércia; além de deputado federal e conselheiro da República na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 1990, foi candidato a governador pelo PDT. Em 2000, assumiu a Secretaria Municipal de Relações Políticas do rápido governo do prefeito paulistano Régis de Oliveira; foi assessor do governador José Serra e, posteriormente, secretário de Relações Institucionais.
História - Seu currículo é simplesmente invejável. Iniciou a militância política como presidente da União dos Estudantes do Estado de São Paulo (UEE) e do Centro Acadêmico XI de Agosto, nos tempos de estudante. Em 1953, venceu o Concurso Nacional de Oratória, concorrendo com estudantes de Direito de diversas faculdades paulistas.
Em 1958, elegeu-se deputado federal pela primeira vez, já pelo PTB. Foi líder do partido em 1960, tendo grande ligação com João Goulart.
Almino lembra: “Quando Jango assumiu a presidência, o Brasil viveu a famosa ‘Crise da Legalidade’. Instituído o sistema parlamentarista, nosso País começou a viver tempos muito difíceis, de instabilidade política, que culminou com o golpe militar de 1964, pouco mais de um ano após o retorno do presidencialismo. João Goulart era um homem comprometido com as causas populares. Fez um governo extraordinário, apesar do pouco tempo. Não só pelas coisas realizadas em termos de leis, como de proposições, uma delas a reforma agrária. Foi um defensor ferrenho das causas trabalhistas”.
Sindicalismo - Almino Affonso afirma: “Após os 21 anos de ditadura, vivemos hoje em um País onde a liberdade sindical ainda não é respeitada. Quem perde com isso é o povo. Muita gente foi morta ou presa para que nossa liberdade fosse preservada”. Mas, acima de tudo, vê o futuro com otimismo: “Os metalúrgicos, assim como os ferroviários e outras categorias, travavam suas lutas de forma individual. Hoje, com as Centrais, as batalhas são conjuntas, e se ganha muito mais força”.
Ele recorda: “Na minha passagem pelo Ministério do Trabalho, que foi curta, a relação com o setor sindical era absoluta. Havia o problema da consolidação do CGT, que nasceu da total independência e autonomia dos Sindicatos, mas era reconhecido do ponto de vista legal como inadequado, incorreto. Havia uma Portaria antiga, dos primeiros ministros do Trabalho, vetando qualquer organização sindical que não fosse dentro da verticalidade da CLT. Então, o CGT não podia ter o papel que passou a ter. Quando ministro, mandei uma Portaria cancelando aquela que proibia. Se não havia proibição, era legal!”.
Foi aí que os brasileiros passaram a ter alguns benefícios, como 13º salário, estatuto do trabalhador rural, direito de greve e muitos outros.
Livros - Além de toda essa vida pública, Almino Affonso é autor de vários livros, como “Raízes do Golpe”, “Parlamentarismo, Governo do Povo” e “Almino Affonso – Tribuno da Abolição”. E não para por aí: “Até o final deste ano devo terminar outra obra. O título provisório é ‘João Goulart – Uma revisão da História’. Pretendo, com este trabalho, contestar deformações que alguns escritores publicaram sobre o ex-presidente Jango”.
Recado - Para finalizar, Almino Affonso, responsável pela legalização do nosso Sindicato, tem um recado para os jovens metalúrgicos: “Nunca se excluam da vida pública. Não deixem que prevaleçam os interesses pessoais. Precisamos agir no coletivo com os nossos interesses, porque esse é o amanhã do nosso País”.
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